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segunda-feira, 1 de março de 2010

Mercados municipais definham e câmaras também têm culpa

Com a devida vénia ao JORNAL DE NOTICIAS

Associação de feirantes do Norte aponta como defeitos desinteresse, falta de incentivo à ocupação, má localização e má gestão

Os mercados estão em vias de extinção, avalia a Associação de Feiras e Mercados da Região Norte, que atribui a maior parte da culpa ao desinteresse das autarquias. Falta de incentivo à ocupação, má localização e má gestão são alguns dos defeitos apontados.

Para Fernando Sá, presidente da Associação de Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN), um dos problemas é estrutural: "As câmaras municipais não estão vocacionadas para gerir mercados". Isso poderá explicar erros recorrentes, como a construção de mercados novos e bem equipados, só que na periferia, como aconteceu na Trofa. "Como não tem transportes funciona só ao sábado, quando funciona a feira", descreve Fernando Sá.

Por outro lado, deixam-se arrastar situações até ao limite, como é o caso do Bolhão, ou vão-se deixando os lugares que vagam vazios ano após ano."A própria política dos regulamentos municipais é bastante antiga e ambígua. Há casos em que não abrem lugares ou não deixam passar de pais para filhos. Não há vontade das autarquias em tornar esses lugares mais preenchidos", avalia, convicto que a ocupação desses espaços podia gerar emprego.

Falta de parques gratuitos

Centralidade, preenchimento de lugares de venda, estacionamento para os clientes e promoção do comércio tradicional são elementos essenciais para o sucesso de um mercado, segundo aassociação. Nenhum da região os tem todos. A falta de estacionamento para os clientes é uma das principais queixas dos comerciantes, tanto no mercado municipal de Matosinhos - que a AFMRN considera um dos melhores do Grande Porto -, como no da Beira-Rio, em Gaia, avaliado como o pior da região.

Maria Berta, de 74 anos, cliente regular em Matosinhos, acha que "o mercado está meio morto desde que tiraram o estacionamento". Ela vai carregada para casa, mas "sem sítio para pôr o carro, as pessoas não vêm cá", disse ao JN. Em Gaia, tem-se procurado afastar os carros da marginal, mas há parques pagos e mais ainda em construção. "O estacionamento estragou-nos o mercado, dantes vinha muito mais gente", diz Urbalina Pereira, diante de uma banca viçosa que destoa do resto do mercado, desolado, gasto, degradado e quase vazio.

Os poucos comerciantes são quase todos idosos. Maria Adelaide, talhante de 87 anos, é a memória viva dos tempos em que o Beira-Rio fervilhava de clientes, das oficinas e indústrias da vizinhança. Agora, tal como grande parte dos mercados do Grande Porto, tem um dia bom por semana - neste caso, o sábado, quando os lavradores acorrem em força.

Mudanças no estilo de vida da população e desertificação dos centros também ajudam à crise dos mercados - e nisto concordam a associação, os comerciantes e as autarquias. "Temos um conjunto de comerciantes envelhecido, mas também um grupo de jovens muito dinâmico que têm que ser acarinhados", diz o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto para quem "o grandeinvestimento nos mercados ainda não fez alcançar objectivos".

A Câmara de Gaia tem ambições para o Beira-Rio: "Será reabilitado, restruturado e modernizado, enquandrando-se melhor na filosofia do centro histórico e da zona de lazer e turismo que é a orla ribeirinha, com o cais de Gaia, o cais cultural e toda a 'movida' adjacente. Existem em Barcelona exemplos de mercados com um conceito que se aproxima muito daquilo que pretendemos, com a criação, por exemplo, de espaços gourmet".