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sábado, 29 de agosto de 2009

Antiga Feira dos Farrapos ou novo “cemitério de feirantes”

Notícia de A Voz de Trás-os-Montes



Hoje completa-se dez meses desde que a Feira dos Farrapos passou para Lordelo. Dez meses de suplício para os feirantes que falam em quebras nas vendas superiores a 50 por cento. Apesar do ‘balão de oxigénio’ que representou a chegada dos emigrantes, muitos põem a hipótese de entregar o espaço e cerca de uma dezena já se despediu mesmo de décadas de trabalho em Vila Real.

O desânimo com as quebras nas vendas é uma constante entre os feirantes que, duas vezes por semana, montam a tenda na Feira do Levante, em Lordelo, espaço que acolheu a outrora chamada Feira dos Farrapos e que agora é mesmo chamada, entre alguns comerciantes, de “cemitério dos feirantes”.

O Nosso Jornal foi ao ‘Levante’ na última terça-feira do mês de Agosto, altura em que o negócio ganhou alguma força com a vinda dos emigrantes, e exactamente no dia em que se cumpriu dez meses da mudança para Lordelo. “Este mês foi um bocadinho melhor”, explicou José Adelino Ferreira, comerciante de calçado que há 25 anos faz a Feira do Levante, considerando, no entanto, que um mês de bom negócio não chega para colmatar uma quebra que, no seu caso, se aproxima dos 50 por cento.

“Lá em cima era muito melhor”, garantiu o feirante, criticando a falta de estacionamento para os clientes e as condições do espaço, que, apesar de novo, continua a exigir que os feirantes coloquem toldos para proteger a mercadoria do sol e da chuva.Apesar de considerar que outros mercados, como Alijó, Lamego ou Amarante, lhe dão mais retorno, José Adelino Ferreira não pensa desistir de fazer a feira dos farrapos porque é de Vila Real e esta não lhe exige grandes deslocações. Para outros, a realidade é outra. “Meu pai já pensou muitas vezes nisso”, explicou Filipe Osório que, com o pai, se dedica ao comércio de malas e faz a feira de Vila Real há mais de 30 anos.

Segundo o mesmo vendedor, para além da quebra nas vendas, também superior a 50 por cento, outro problema prende-se com a organização e fiscalização do espaço. “Muitos ultrapassam o espaço a que têm direito, o que dificulta a circulação das carrinhas” na altura de desmontar as tendas, explicou.Garantindo que os fiscais não fazem nada para que se cumpram as regras, os comerciantes lamentam que tenham que chegar às cinco da manhã para montar e só consigam deixar o espaço às cinco da tarde.

“Temos que estar à espera uns dos outros para descarregar e montar ou carregar e sair”, explicou ainda Américo Malta, comerciante de roupas de crianças que também contabiliza quebras superiores a 50 por cento nas vendas.O feirante sublinhou que noutras localidades, para além do nível de vendas ser maior, ainda “se paga bem menos pelo espaço”, um facto que só não o faz desistir de Vila Real por ser de cá.

Segundo António Silva Rodrigues, da Associação de Feiras e Mercados da Região Norte, são cerca de uma dezena os feirantes que já entregaram os seus espaços na Feira do Levante ou que estão à espera do final do mês de Agosto para o fazer. “Isto é um suicídio a médio/longo prazo”, explicou o feirante.“No início, os feirantes chamavam-na a Feira dos Cogumelos (devido à forma de cobertura das tendas), agora, muitos chamam-na de cemitério de feirantes”, lamentou Albano Cunha que, à semelhança de outros comerciantes, já fez várias diligências junto da Câmara Municipal para demonstrar o seu descontentamento, uma iniciativa que, não só não lhe adiantou de nada, como ainda resultou em algumas pressões por parte da empresa municipal que gere o espaço, a MERVAL.

Apesar de confirmar que o mês de Agosto trouxe um novo ânimo à feira, o comerciante, que há quase duas décadas vende CD’s e cassetes de música, fala em quebras na ordem dos 80 por cento.Relativamente às obras que a autarquia está a levar a cabo para o alargamento da Avenida da Noruega que, vão envolver a criação de mais uma via de circulação e exigir um investimento de mais de 250 mil euros (contando com a requalificação de arruamento, substituição de iluminação pública e a execução do prolongamento da rede de abastecimento de água), Albano Cunha explica que não vão resolver a confusão do tráfego no dia de feira, até porque a terceira via vai servir apenas os veículos de emergência que se deslocam para o Hospital de São Pedro e os autocarros.

“O que nasce tordo nunca se endireita”, considerou o feirante, classificando as obras como “remendos” que não vão resolver o problema de quebra das vendas.A Feira do Levante foi inaugurada em 27 de Novembro do ano passado, depois de um investimento de 800 mil euros, pensado de forma a “garantir melhores condições, mais conforto e comodidade para feirantes e clientes”, defendeu, na altura, Manuel Martins, presidente da Câmara Municipal de Vila Real.No local antes ocupado pela Feira dos Farrapos, na Nossa Senhora da Conceição, estão a decorrer as obras para a construção de um jardim urbano.